24 - Punição


Leão branco

Quando recebi a ligação no início da madrugada já imaginei que havia algo de errado, ela nunca me ligou àquela hora.

Sua voz estava trêmula, ela chorava.
- Erik, você pode vir aqui em casa?

Atendi ao pedido e não demorou muito para que eu estivesse com ela.

Assim que a porta se abriu meu sangue ferveu, o Leão rugiu, como há muito não fazia.

- Quem foi? – limitei-me a perguntar, acariciando seu rosto, vendo o hematoma.

- O André...

André era um ex-namorado que nunca se conformou com o fato de ter sido abandonado. Volta e meia ele surgia do nada, como uma aparição para lhe tirar a paz, mas ela nunca imaginou que ele pudesse chegar ao ponto de a agredir.

- Ele estava transtornado, acho que era droga... – ela me contou, chorando, enquanto eu cuidava do ferimento.

- Não importa, nenhum homem tem o direito de agredir uma mulher, e com você, que me é tão cara ao coração, menos ainda.

Um sorriso brotou em seu rosto, o mais lindo do universo.

- Erik, você diz coisas tão lindas, meu lindo, você não existe.

- Existo sim, estou aqui com você. – beijei-a com ternura.

- Estou com medo, ele pode voltar.

- Não tenha, ele não vai voltar. Me dê o endereço dele.

- Erik, por favor, o que você vai fazer?

- Cuidar para que isso nunca mais se repita.

Ela relutou um pouco, mas logo eu já sabia onde ele morava e fui até o endereço.

Moto na garagem, ele estava em casa, mas não sei se dá para chamar aquilo de moto, um desses modelos populares que os “vida-lokas” costumam usar, eu não chamo de moto. Para mim, só modelos com mais de mil cilindradas podem ser chamadas assim, como a minha.

O Leão rugia e eu tinha que manter o controle para não passar dos limites, afinal, provavelmente minha querida viria a saber do que aconteceria, mas não estava fácil.

Saltei o muro facilmente e fui recepcionado por um Pit Bull, raça da moda que os valentões costumam ter, mas antes que ele me mordesse dei um jeito para que ficasse mansinho.

Vindo do interior da casa ouvi uma música tocando, fui até a janela e, mesmo através da cortina que atrapalhava, consegui ver o sujeito sentado no sofá, com uma garrafa de cerveja na mão.

Bati na porta.

Quem atendeu foi o frangote, desses típicos marginaizinhos que se vê aos montes por aí e a única coisa que me passou pela cabeça foi – Como ela se envolveu com isso?

Mas não competia a mim questionar o passado da garota que eu gostava, eu estava ali para garantir que ela nunca mais fosse machucada.

- Ei mano, quem cê é? O que tá fazendo aqui? Cadê meu dog? – aquele jeitinho de malandro de falar me deixava ainda mais irritado.

- Então você é o André, malandrão que gosta de bater em mulher... – o medi de cima embaixo.

Magrelo, cheio de tatuagens, piercing´s, bem mais baixo que eu, seria covardia bater nele, caso não se tratasse de um sujeito que agride mulher.

- Cê tá falando de quem? Ah tá, já sei, eu meti a mão nela memo, o que cê tem com isso maluco? Vaza fora!

- Nunca mais entre em contato com ela, muito menos chegue perto dela, ou você vai se arrepender, entendeu? – eu tentava manter o controle.

- Quem cê é, mano? O que cê tem a ver com a treta? Se liga maluco, a mina é minha, cê não tem nada com isso, te fode!

O infeliz realmente não tinha a menor noção do perigo e acreditar que podia me enfrentar daquele jeito era sinal de que ele estava mesmo sob o efeito de algum alucinógeno. Azar o dele.

- Cara, primeiro que ela não é sua. Ela te largou faz tempo, então segue seu rumo e esquece dela. E, segundo, você não vai querer saber quem eu sou. O recado é esse, espero que tenha entendido. – virei as costas e segui para o portão antes que o moesse na porrada.

- Já tô ligado, maluco, cê tá comendo ela, é isso então. Ela é boa pra caralho, né não? – ele ria, mas continuei me afastando tentando não dar ouvidos ao que falava.

- Tô falando contigo, ô filho da puta! – alguns idiotas não sabem quando parar e a prova disso foi ele jogar a garrafa nas minhas costas.

O Leão saiu da jaula e quando me dei conta eu já mantinha o tal André a meio metro do chão, agarrando ele pela garganta.

Por piores que sejam os lixos humanos com quem lido em minhas missões sempre consigo manter o controle, mas quando o assunto se torna pessoal a coisa muda de figura e fica quase impossível controlar o Leão.

Joguei-o sobre uma mesa de centro da sala e o vidro espatifou.

O sujeito se levantou, cambaleante, parecia não ter se dado conta ainda do que tinha acontecido.

- Você entendeu agora o que eu disse?

- Vá tomar no cu, maluco, a mina é minha, sai fora!

Novamente ele caiu no chão, mas dessa vez graças a um soco que lhe dei na cara.

Caído, gemendo, ele sequer tentava se defender, como todo típico abusador de mulheres.

- Por que vocês preferem o jeito mais difícil? – chutei-lhe o estômago.

- Tá, tá bom, eu já entendi, porra! – ele se contorcia.

Sou sincero em dizer que minha vontade era a de dar um fim àquele sujeito, assim como fazia quando era pago para isso, mas como explicar à garota?

- Isso é ótimo, demorou, mas entendeu. E se eu souber que você foi atrás dela eu acabo com você. – novamente virei as costas para ir embora, mas assim que alcancei o quintal o ouvi correr para outro cômodo.

Uma verdade que aprendi ao longo de todo esse tempo é que qualquer covarde, por pior que seja, com uma arma na mão sempre se acha valente. Por que com ele seria diferente?

Sabia o que ele iria fazer e voltei correndo para dentro da casa, o encontrando no quarto.

- Aê cuzão, encosta em mim agora, seu merda! – ele me apontava um revólver.

- Cara, isso só vai piorar as coisas, pode acreditar. – eu o encarava, furioso.

- Cê é machão pra caraio né não? Mas não tem peito de aço, filho da puta!

Ele ia disparar, via isso em seus olhos, um matador sabe reconhecer, mas antes que pudesse agir saltei sobre ele, jogando-o no chão.

A arma voou para longe e eu então faria o que sei fazer melhor.

- Idiota, você não me deixa outra escolha.

...

- Alô, oi meu lindo, tá tudo bem?

- Oi, minha querida, está tudo sim, liguei para te dar boa noite, ou bom dia, por causa do horário.

- Tudo bem, não consegui dormir, estou preocupada com você. Como foi sua conversa com o covardão? Você demorou pra ligar.

-  Então, não tinha ninguém no endereço que você me deu. Esperei um pouco pra ver se ele aparecia, mas nem sinal. Então um vizinho apareceu e me disse que viu esse André saindo de moto, com uma mala, parecia que ia viajar.

- Típico dele isso, mas foi melhor assim, ficaria com vergonha de você ver o traste com quem um dia me meti, não sei onde estava com a cabeça...

- Não se preocupe, está tudo bem. Olha, vou pro meu apartamento, já está tarde, nos vemos amanhã, como sempre, ok?

- Tudo bem, meu lindo, no “nosso” lugar, como sempre, e muito obrigada tá?

- Não precisa agradecer, até amanhã, um beijo.

A ideia da viagem foi mesmo brilhante, mas o que importava era o fato de que ele nunca mais chegaria perto dela outra vez.

Não estava mentindo, o tal André realmente tinha feito uma viagem, mas uma viagem sem volta, e eu tinha me encarregado de lhe apresentar o caminho. 

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