23 - A Surpresa

Casa Wallar

Não me sentia daquele jeito desde que conheci Rayka, e confesso que acreditei que não voltaria a sentir: o frio na barriga, o nervosismo, a boca seca...

Chega a ser ridículo alguém como eu assumir que estava me sentindo assim, mas estava, não vou negar.

Quinze anos, não, eu já passara há muito tempo, muito mesmo, da adolescência, mas me sentia como um garoto indo se encontrar com a primeira namoradinha.

Por que me sentia daquele jeito? Afinal, ela era apenas mais uma garota...

Não, ela não era apenas mais uma garota, era a garota que fez meu coração bater mais forte outra vez.

O que ela tinha de especial? Impossível dizer, talvez não fosse somente uma coisa, mas sim um conjunto de coisas, que me sinto, ainda hoje, incapaz de enumerar.

Por que gostamos de ver o pôr do sol, as estrelas ou o vai e vem do mar? É a mesma coisa, apenas gostamos, sem explicação, mas sabemos que aquilo é especial e não nos importamos com suas razões.

Para mim ela já era especial, e isso era tudo o que me importava.

O papel amassado e molhado indicava o endereço. Era a casa dela, e eu, parado à sua porta, não sabia o que fazer.

Há três dias, desde a última vez em que nos vimos, eu adiava aquele momento. Talvez por medo de estragar algo tão bom que tínhamos, não sei.

A chuva tinha me pego no caminho. Chovia, e chovia muito, eu não deveria estar lá, disse à ela ao telefone que não iria, mas não pude me conter, sentia saudade.

A luz acesa indicava que ela estava acordada, sabia que dormia tarde, então minha chegada não perturbaria seu sono.

Sentia-me um idiota, lá, em pé, parado, sem saber o que fazer.

- Porra, eu podia ter vindo de carro... – resmunguei, ensopado, olhando para a moto, sentindo-me um completo imbecil.

Cogitei ir embora, voltar para o apartamento, e ela nunca saberia o quão ridículo fui por ter ido até lá...

Permaneci parado, na calçada, não fui embora.

Impossível descrever o que sentia, a ânsia de poder estar com ela outra vez, a vergonha por estar naquela situação...

Fiquei lá, olhando para sua janela acesa, imaginando-a linda, sorridente como sempre.

Ah, se ela pudesse entender o quão importante já era para mim...

O destino... quem não acredita nele certamente nunca viveu nada parecido...

Quando enfim decidi o que fazer virei-me para a Harley, eu ia embora, mas ouvi uma voz chamando.

- Ei, seu bobo, vai ficar aí parado ou vai me dar um abraço?

Aquela voz rouca, inconfundível, era ela.

Me virei para ela com um sorriso idiota.

Parada ali na porta, a mulher mais linda do mundo.

- Abraço? Mas, meu anjo, estou todo molhado...

Foi então que ela saiu, deu alguns passos, abriu os braços e olhou para o alto, deixando a chuva cair pelo seu corpo.

Foram breves instantes que pareceram uma eternidade.

Ela então olhou para mim.

- Pronto, bobo, pode me abraçar, agora também estou molhada.

Caminhei, sem jeito, na direção dela, olhei em seus olhos e enfim toquei seu rosto.

- Já disse que te adoro?

- Ainda não, mas é bom saber, porque também adoro você. – ela respondeu, com aquele sorriso que nem mesmo a chuva foi capaz de desmanchar... 

Não houve beijo, mas sim um abraço, aquele que tanto acalentava meu coração.

Ficamos ali, abraçados, com a chuva a nos molhar, como se fôssemos um só.

Para mim aquele era o melhor lugar do mundo para estar, com ela junto de mim, sentindo seu calor, seu perfume, e é como se aquele abraço não tivesse acabado, até hoje. 

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