Já há dois dias havia cumprido a missão que me havia sido confiada, mas por algum motivo que não entendia qual eu não sentia vontade de deixar aquela cidade húngara que não tinha nenhum atrativo especial.
Era primavera e as pessoas retornavam à sua rotina após o término do rigoroso inverno que as obrigara a ficar em casa a maior parte do tempo.
Era primavera e as pessoas retornavam à sua rotina após o término do rigoroso inverno que as obrigara a ficar em casa a maior parte do tempo.
O rebuliço das ruas de alguma forma me alegrava até mais do que a certeza de que seus moradores estavam livres do lixo ao qual tinha dado fim.
Estava então almoçando naquele aconchegante restaurante que, por hábito, passei a frequentar, quando notei sua presença.
Não me lembro de sua chegada, talvez ela já estivesse lá quando entrei, mas assim que meus olhos se encontraram com os dela alguma coisa mudou.
Confesso que não saberei dizer quantas mulheres já tinha conhecido até então, mas aqueles olhos me despertaram algo que jamais tinha sentido.
Foi estranho, normalmente eu iria até a mesa e começaria alguma conversa banal, mas aquela menina de alguma forma me intimidava e fiquei apenas olhando para ela, esperando que nossos olhos se encontrassem novamente.
Acompanhada por uma amiga elas conversavam animadamente e o sorriso que volta e meia ela estampava era desconcertante.
Então aconteceu de novo: nossos olhos se encontraram e dessa vez fui presenteado por um sorriso, que retribui com uma inexplicável timidez.
Ela cochichou algo com a amiga, olharam para mim e sorriram.
Embora a comida do local fosse deliciosa eu mal comia.
- Senhor, está tudo bem? A comida está do seu agrado? Noto que mal a toca... – uma atendente veio até minha mesa trazendo-me de volta à realidade.
- Sim, está ótima, como sempre, me perdoe.
- Se preferir posso trazer outra coisa.
- Muito obrigado, mas não é necessário. Por favor, diga-me: quem é aquela moça? – fiz um sutil gesto com a cabeça na direção da garota.
- Aquelas são Egla e Rayka, fazia tempo que não vinham aqui, deviam estar viajando.
- Ela é linda... – o comentário escapou, fazendo a atendente rir.
- Tenho que concordar, elas são mesmo muito bonitas.
- A de casaco negro...
- O nome dela é Rayka.
- Será que haveria algum problema se eu me juntasse à elas?
- Se o senhor quiser eu posso perguntar.
Fiz um sinal positivo com a cabeça e a atendente seguiu até elas.
Não me recordo de algum dia já ter me sentido daquela forma. A expectativa, o frio na barriga, a boca seca...
Assim que a solícita moça chegou até elas Rayka fez um doce gesto para mim e murmurou – Vem...
Fiquei paralisado por alguns instantes até finalmente ter alguma reação.
- Como vai? Meu nome é Rayka e essa é Egla, sente-se com a gente, será um prazer. – sua voz era doce como uma melodia e seu sorriso me desconcertava.
Sentei-me, em silêncio, provavelmente com um sorriso bobo.
- Você está bem? – perguntou a amiga.
Dei-me conta do quão idiota eu deveria parecer.
- Sim, sim, está tudo bem. Perdoem-me, meu nome é Erik, Erik Wallar, apenas fiquei sem palavras por alguns instantes. Obrigado por me receberem à mesa de vocês.
- Prazer Erik, é um prazer ter com a gente um homem tão bonito e educado.
- Pelo sotaque acredito que seja da Suécia, acertei? – Rayka era sagaz.
- Sim, isso, sou sueco. Mas há tempos não retorno à minha terra natal, você parece ser daqui mesmo. – impossível desviar meus olhos dos dela.
- Nascemos aqui sim, mas viajamos bastante por causa do trabalho, por isso reconheci seu sotaque. E você, o que faz?
- Também viajo muito a trabalho, já estive em muitos lugares, conheci muitas pessoas, vi muitas coisas, mas nunca algo que me encantasse tanto quanto você. – há momentos em que a boca deixa escapar o que vem direito do coração, sem o filtro da mente.
Rayka baixou a cabeça e riu, constrangida.
- Curioso, minha amiga disse o mesmo, ainda agora. – Egla riu.
- Menina, você me paga...
Todos rimos.
Não saberei dizer por quantas horas ficamos conversando, mas a verdade é que fazia muito tempo que não tinha momentos tão agradáveis como aquele.
Já do lado de fora do restaurante chegou o momento da despedida, sim, o problema dos bons momentos é que eles sempre terminam.
- Ficará por aqui por quanto tempo Erik?
- Difícil dizer, Rayka. Mas algo me diz que não partirei tão cedo.
- Que legal, nosso próximo trabalho será em uma semana, então ficaremos por aqui mais alguns dias até viajarmos de novo.
- Isso é ótimo, então acho que podemos almoçar juntos amanhã novamente.
As amigas se entreolharam e riram.
- Claro Erik, podemos sim, gostei de você. – corpo de mulher, jeito de menina, Rayka era encantadora.
Egla, na ponta dos pés, repentinamente me deu um beijo no rosto, despedindo-se, mas ao chegar a vez de Rayka eu a envolvi pela cintura ao término do sutil beijo e a olhei dentro dos olhos.
- Até amanhã, Rayka...
Por um breve instante seu sorriso desapareceu, mas o encanto presente em seus olhos não deixou nenhuma dúvida de que entre nós havia algo especial, para mim, diferente de tudo o que já tinha vivido.
Foi um sutil momento onde nossos rostos estiveram próximos, mas o suficiente para que eu estranhamente quisesse aquela menina comigo, para sempre.
Observei-as partindo, já ansioso pela próxima oportunidade de poder estar junto dela mais uma vez.
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