O Leão Branco, recordo-me como se tivesse sido ontem que fui assim chamado pela primeira vez e engana-se quem acredita ter sido pela minha vasta cabeleira.
Não éramos mais que cinquenta, ainda assim os quase duzentos berserkers relutavam em iniciar o ataque.
Não éramos mais que cinquenta, ainda assim os quase duzentos berserkers relutavam em iniciar o ataque.
Ouvíamos o brado de seus machados contra os escudos e seus urros de guerra em uma vã tentativa de nos amedrontar, nada era capaz de modificar nosso semblante.
Permanecíamos estáticos, impassíveis, posicionados entre eles e nossa Casa.
Nunca a Casa de Wallar fora invadida e aquela decididamente não seria a primeira vez.
Meu espírito queimava, minha sede de sangue crescia, quantos deles encontrariam a morte através de minhas mãos?
Passaram-se alguns momentos de intimidação até que eles enfim se lançaram ao ataque.
Como uma massa compacta dispararam em nossa direção em uma marcha ofensiva.
Nosso líder, que embora fosse um mestre na arte da guerra não possuía minha condição, aguardava o momento mais propício para ordenar nossa ação defensiva.
Eles estavam há uns oitocentos metros de nós, em breve chegariam, não havia motivo para nos anteciparmos, desperdiçar energia.
Era a primeira vez que nos deparávamos com berserkers, guerreiros enormes, furiosos, temidos, mas o cabo do meu machado rangia à medida em que eu o apertava, tamanha era a fúria que crescia dentro de mim.
“Sem medo, sem remorso” – uma voz se repetia em minha mente, fruto dos anos de treinamento recebido.
Não sei explicar o que houve comigo na ocasião, talvez meu inconsciente soubesse que eles não eram meros inimigos.
Haveria algum motivo secreto perdido em meu passado desconhecido que fazia meu ódio crescer daquela forma...
Não houve tempo para refletir, minha fúria atingiu tal dimensão que, mesmo antes da ordem do nosso líder, lancei-me contra a onda de morte que se aproximava, abreviando nosso encontro.
- Esperem! – o ouvi gritar atrás de mim, enquanto corria em direção ao inimigo.
Apenas eu me lancei ao ataque e assim que alcancei o primeiro bserserker os gritos de dor não mais cessaram.
A alva neve sob nossos pés passou a tingir-se de vermelho.
Foi irracional, meus golpes seguiam a esmo, de forma quase incontrolável, meus urros se misturavam ao som metálico das armas se encontrando, e quando me dei conta haviam diversos corpos desfalecidos ou se contorcendo na neve.
De súbito o silêncio tomou conta, nenhum deles mais atacava e ouvia-se somente meus rosnados e alguns gemidos.
Um lampejo de razão me veio à mente e percebi encontrar-me no centro de uma verdadeira clareira inimiga, sozinho.
Eu estava cercado, mas eles não mais me atacavam, estranhamente me olhavam horrorizados.
Os vi então correrem de volta à floresta, após a ordem do líder, antes mesmo que meus irmãos de armas se juntassem a mim na batalha.
Não houve necessidade.
Fiquei parado, ainda com o machado pronto, até que fui desperto do meu furioso êxtase por um amigável tapa no ombro.
- Parabéns, Erik, foste excepcional, porém recomendo que aguardes minha ordem na próxima ocasião.
Como era nosso hábito, a noite que se seguiu foi de festividade com vinho, comida, música e mulheres.
O assunto principal foi minha atitude na batalha, até que em certo momento um dos guerreiros bradou:
- Saudemos Erik, que lutou como um verdadeiro leão!
- Sim, como um leão, o leão branco! – outro acrescentou.
Gritos de saudação se seguiram de forma quase interminável.
Abraçado a duas belas mulheres, com um jarro de vinho em uma das mãos, estava constrangido com tudo aquilo.
Mal sabiam eles que minha atitude havia sido totalmente impensada e que eu não tinha a menor ideia do que fazia.
E o pior, àquela altura, eu sequer fazia ideia do que fosse um leão.
- Um salve à Erik, o Leão Branco! Nosso Leão Branco! – bradou nosso Senhor, satisfeito, e já um pouco alcoolizado.
Foi a partir de então que passei a ser conhecido por esse nome, o Leão Branco, que orgulhosamente mantenho até hoje.
Um comentário:
Feroz como um leão. 👏👏👏👏
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