1 - A Casa Wallar

Erik Wallar

Em meio às montanhas perdidas no centro da Escandinávia repousa uma fortificação que ainda hoje maravilha aqueles que sobre ela pousam os olhos: o majestoso castelo que outrora foi conhecido como Casa Wallar.

Hoje esquecido, seus dias de glória se perderam no passado e pouquíssimos são aqueles que se recordam dessa época, entre eles está quem vos fala: prazer, sou Erik Wallar.

Não me lembro de quando ou porquê cheguei à Casa, isso ocorreu quando tinha pouca idade, ainda menino, porém nele encontrei abrigo, uma família e um sentido para minha existência.

A Casa Wallar era apenas uma dentre tantas que na época existiam pela Europa, porém seu nome era conhecido pelos quatro cantos do mundo, não apenas por sua beleza, mas também pela reputação de seus senhores e ferocidade de seus guerreiros, também seus guardiões, e eu era um deles.

Minha Casa tornou-se referência entre as demais, por auxiliá-las quando havia necessidade, sem titubear.

Não foram raras as vezes em que, a mando dos nossos Senhores, eu e meus irmãos guerreiros defendemos Casas amigas da dominação de invasores.

Sim, Senhores, servi a cinco gerações de Senhores da Casa, mas peço-lhe calma, em breve explicarei o que puder.

Por séculos minha Casa foi uma das mais importantes de toda Escandinávia e essa reputação parecia que jamais se perderia.
Sim, séculos.

Não me pergunte o porquê, não saberei lhe responder.

O que posso lhe dizer é apenas que eu e mais dois dos meus irmãos de armas deixamos de envelhecer quando atingimos os vinte e oito invernos.

Exato, somos imunes ao tempo e, pelo que parece, também à morte.

Curiosamente nós três havíamos chegado à Casa de uma forma que jamais nos foi revelada, nossa origem sempre foi um mistério.

Durante certo tempo conjecturar sobre isso tudo me perturbava os pensamentos, tirava meu sono...

Quem ou o quê sou? Qual minha origem?

Proibido de questionar sobre minha identidade a quem quer que fosse, decidi apenas aceitar minha condição, usufruir das regalias que ela me concede, seguindo minha existência sob as ordens de meus Senhores.

Nunca me faltou nada, de nada mais necessitava e em troca apenas devia fazer o que mais gostava: matar e destruir.

Incontáveis batalhas travei, com absoluto êxito, levando glória à minha Casa e orgulho aos meus Senhores.

Porém, nada é eterno, talvez nem mesmo eu, tudo chega ao fim, e não foi diferente com os dias de guerra, os dias de glória.

Com o fim das guerras entre os povos a Casa Wallar foi gradativamente perdendo sua importância e prestígio, até chegar o momento em que treinar guerreiros tornou-se desnecessário.

A Senhora Morte encontrou, como acontece aos mortais, os irmãos guerreiros que não tinham minha condição, chegando então o momento em que, ociosos, restamos somente nós três, os “três irmãos eternos”, como éramos conhecidos.

Não havia mais motivos para estarmos ali, enfadonhos, vendo o tempo correr sem anseio, sem utilidade, sem alegria.

Chegou então o dia em que meu último Senhor permitiu que, se assim quiséssemos, seguíssemos nossa existência da maneira que achássemos melhor.

Deixamos então nossa tão amada Casa para ganharmos o mundo, munidos de riqueza, experiência e liberdade.

Cada qual seguiu seu caminho após uma manhã de despedida, dolorosa, porém feliz.
Nunca mais tive notícias deles, desconheço seu paradeiro, mas creio estarem bem.

Hoje, de volta à Escandinávia, aqui sentado defronte à vazia fortificação que me deu abrigo e que por inúmeras vezes defendi, sinto o peito encher-se de saudade dos tempos que nunca mais voltarão.

Tempos de guerra, tempos de glória.