Já há alguns dias, à beira da tranquila represa, eu vislumbrava o pôr do Sol sozinho, melancólico, tinha me acostumado com a companhia daquela menina.
Mas ela não mais apareceu.
Seu telefone apenas chamava, aquilo me preocupou, fui até sua casa e tudo parecia deserto, o que teria acontecido?
Informei-me no restaurante onde trabalhava e soube que ela tinha pedido demissão, iria se mudar para a cidade dos pais, que eu não sabia onde ficava.
O que teria acontecido para que ela tomasse aquela atitude?
Teria descoberto o destino que dei ao tal André? Essa possibilidade não existia.
Mais perguntas que ficariam sem resposta, não me importei muito, fica comigo quem quer, não obrigaria ninguém a permanecer ao meu lado.
Respeito, dedicação, carinho, talvez as mulheres não estejam mais dando importância para esse tipo de coisa, espero que não, mas se for isso, azar o delas.
Passaram-se alguns dias e, pela manhã, desembarquei em Ankara, capital turca, onde à noite me reuniria com um contato que me passaria as instruções para uma missão a ser cumprida na cidade.
Dormi um pouco e acordei no meio da tarde, eu estava estranhamente inquieto e resolvi dar uma volta pelos arredores.
O clima estava ameno, agradável, Ankara é uma belíssima cidade e eu caminhava tranquilamente em meio à multidão até que cheguei a um convidativo café, o Kunefeci Muallin, e decidi comer alguma coisa.
Não falo a língua local e a atendente não entendia meu inglês, mas por sorte uma moça sentada numa mesa próxima veio me socorrer.
- Oi, posso te ajudar, se quiser. O que você vai pedir? Eu traduzo pra ela. – fiquei indeciso se agradecia pela ajuda ou por ser presenteado com tão belo sorriso.
A atendente voltou para o balcão para providenciar meu pedido e eu não pude deixar de convidar minha “salvadora” a sentar-se comigo.
- Estranho uma atendente não falar inglês...
- É verdade, mas acho que ela tá cobrindo folga ou férias de alguém. – ela respondeu, ajeitando seu cabelo loiro.
- O importante é eu não passar fome, e graças à esse “probleminha” estamos aqui conversando.
- Às vezes os “probleminhas” nos revelam agradáveis surpresas.
Seu nome era Alexia, brasileira, estava em Ankara a passeio, sozinha, e ficaria na cidade por uma semana.
A beleza do seu sorriso e a sinceridade que transbordavam de seus olhos me fizeram acreditar que minha permanência na cidade seria maior do que eu tinha planejado.
...
Era quase uma da manhã e eu, na esquina, dentro do carro que me tinha sido concedido (contatos pensam em tudo) aguardava a chegada dos meus alvos.
As informações estavam corretas e quando a BMW estacionou em frente à boate os três desceram.
Ali funcionava uma rede de prostituição infantil e eles, além de donos do local, eram os agenciadores.
Pensei em aguardar a saída deles, para que o serviço fosse mais tranquilo, mas naquela noite eu queria um pouco mais de agitação, além de mostrar a todos os frequentadores e funcionários o que acontece com aqueles que exploram prostituição infantil.
Trajando terno e gravata, coisa que dificilmente faço, não encontrei dificuldade em entrar na boate, o fato de eu ser estrangeiro provavelmente ajudou.
A casa estava cheia, meninas dançavam em um palco rodeado por homens sedentos enquanto garçonetes seminuas se encarregavam dos pedidos e seguranças estrategicamente posicionados se encarregavam de manter a ordem.
De imediato não identifiquei meus três alvos, então decidi me sentar e aguardar que aparecessem.
Pedi uma dose de vodca, minha bebida preferida, enquanto olhava ao redor, caçando-os.
A maioria das funcionárias não aparentava ser menor de idade, ao menos as garçonetes, mas ao me atentar ao palco percebi que era lá que as meninas “trabalhavam”, os carniceiros nutriam uma pervertida preferência pelas jovens.
Três estavam dançando naquele momento e a maquiagem que usavam não escondia o fato de terem entre quinze e dezesseis anos.
A imagem que me veio à mente foi de um rebanho de ovelhas cercado por uma matilha faminta, sim, era essa a nítida imagem que eu tinha vendo aquela cena, mas então perguntei-me: “Estariam elas fazendo aquilo por vontade própria?”.
Enquanto bebia minha dose eu refletia sobre o assunto, mas não estava lá para refletir e sim para executar meu trabalho: pôr fim àquele lugar, e faria isso.
Após alguns minutos identifiquei os três, tinham saído de uma porta nos fundos da boate, provavelmente a sala onde administravam os negócios.
Cumprimentavam os clientes e faziam gracejos com as garçonetes, uma atitude típica de cafetões, sem se darem conta do que estava por vir.
Esperei um pouco até, enfim, me aproximar deles e puxar conversa.
- Vocês mantém um belo negócio aqui, parabéns.
O sorriso dos três indicou que falavam minha língua.
- Como vai, gringo, está gostando da casa? – um deles me cumprimentou.
- Sim, é um belo local. Boa bebida, boa música e lindas garotas.
- Fique à vontade, amigo, a casa é sua.
- Obrigado, mas pelo que soube vocês tem atrações especiais para clientes especiais.
Os três se entreolharam, desconfiados.
- Isso depende do quanto eles forem especiais. – completou o outro.
- Especiais do tipo que gostam de “coisa nova” e podem pagar bem por isso. Um amigo me disse que essa é a especialidade da casa, não poderia vir à Ankara e deixar de conhece-la.
Talvez eu estivesse sendo direto demais, os três pareciam desconfiados, mas recebi informações do meu contato de que meninas de dez, onze anos, eram aliciadas por eles e eu ainda não tinha visto nenhuma delas.
- Gringo, divirta-se mais um pouco e vamos ver o que temos para você. Se não se importar.
- Tranquilo, tenho a noite toda, meu voo para Nova Iorque sai apenas amanhã à tarde. – concordei, me afastando e retornando à minha mesa.
Embora desconfiados eles cairiam na armadilha, saberem que eu era estrangeiro, e de tão longe, afastava a possibilidade de eu ser policial, mas eu já sabia que haviam autoridades coniventes com os negócios deles, como acontece na maioria das vezes.
Bebia mais uma dose de vodca quando um dos três se aproximou e sentou ao meu lado.
- Gringo, estamos um pouco confusos, o que você procura exatamente aqui? Temos muita coisa: drogas, sexo, você tem que ser mais específico.
- Vodca dessa qualidade eu tenho no hotel, mas não uso drogas, elas são a fuga dos covardes, mas acho que vocês devem ter alguma coisa mais “diferenciada”.
- “Coisa nova”, você disse. Do que está falando?
Deixei de lado o ar amistoso que até então carregava e olhei para ele com firmeza.
- “Amigo”, as três dançarinas são menores de idade, eu entendo do assunto e notei assim que entrei aqui, mas não é isso que procuro, estou querendo “novinhas”, “lolitas”, será que você me entende?
- Você tem um gosto bastante diferenciado, sabe o quanto isso é arriscado, gringo?
- Sim, sei, e acho que você também sabe. Mas me parece que gostamos de correr riscos, não é mesmo?
- Negócios arriscados são mais lucrativos. Verei o que posso arrumar pra você.
Ele então se juntou aos outros, conversaram um pouco, até me chamarem para junto deles.
- Gringo, venha com a gente, vamos te mostrar o que temos, mas se importa de o revistarmos? Sabe como são as coisas...
- Fique à vontade, não tenho o que esconder e sei bem como funciona o negócio.
Após a revista fomos para os fundos, seguimos por um corredor até chegarmos à um novo salão, menor, bem decorado, mas que fedia à luxúria, e nele sim estavam as meninas mais novas.
Eram seis, não estavam maquiadas, trajavam roupas normais, a idade delas não tinha porquê ser disfarçada, pedófilos gostam disso, saber que estão ficando com crianças, é doentio.
Dois cidadãos já estavam com elas, um deles acariciando as coxas de uma que deveria ter doze anos, enquanto outro dividia um copo de whisky com uma de aparência oriental, que devia ter dez.
Meu sangue fervia, o Leão estava prestes a sair da jaula.
- Era disso que estava falando, gringo? – perguntou o mais comunicativo, com um sorriso sacana, enquanto fechava a porta.
- Sim, era exatamente isso que eu queria. – com a resposta ele já caiu desacordado graças ao soco que lhe dei no meio da cara.
Os outros dois tentaram sacar suas armas, mas não houve tempo, logo estavam caídos ao lado do primeiro.
Ainda troquei alguns golpes com dois seguranças que estavam no salão, eles normalmente são contratados graças ao tamanho e não às habilidades em lutar. Foi fácil.
Os dois clientes imundos correram na minha direção, não para me atacar, eles estavam desesperados para fugir, coisa que não conseguiram fazer, os nocauteei assim que se aproximaram da porta.
- Meninas, saiam, vão embora, e nunca mais voltem aqui. – ordenei, abrindo a porta.
Chorando, nervosas, elas me obedeceram rapidamente e assim eu pude ficar sozinho com aquela escória, para fazer aquilo pelo qual tinha sido pago.
Não demorou muito para que o restante dos seguranças chegasse, o que posso dizer? Foi divertido.
Acredito que qualquer uma de vocês vomitaria se entrasse no local após o término do meu trabalho, mas não fiz nada além do que eles mereciam.
O importante é que a boate certamente não voltaria a funcionar, cheguei a me preocupar com o destino de todas aquelas meninas, mas meu contato prometeu que cuidaria delas.
Voltei até o carro e segui para o hotel.
Estava ansioso, no dia seguinte me encontraria novamente com Alexia, aquela loira de sorriso incrível.
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